segunda-feira, 6 de junho de 2022

Heloisa Aleixo Lustosa, Rio perde a presidente da ABA!


Heloisa Aleixo Lustosa, a icônica

Sinônimo de arte, elegância e grande cultura, o Rio de Janeiro se despede de sua grande dama das artes plásticas


por Thiago de Menezes *


Heloisa Aleixo Lustosa de Andrade (na foto de Marcelo Borgongino em destaque, com o antiquário e acadêmico das artes, Paulo Roberto Barragat) que marcou a vida cultural brasileira com sua atuação fundamental, partiu no domingo, 05 de junho de 2022. O Rio de Janeiro cultural está de luto pela perda de um nome ícone e destaque quando o assunto era arte e museologia. Personalidade de primeiríssima linha, a senhora Lustosa presidia a tradicional “Academia Brasileira de Artes”, mas era conhecida do grande público e dos culturetes de carteirinha por ter dirigido o MAM, o Museu Nacional de Belas Artes, o Museu de Imagens do Inconsciente e foi pioneira em levar para o Rio de Janeiro, dando acesso ao grande público, exposições de artistas internacionais como Monet, Rodin, Salvador Dalí e Eugène Boudin. 

Na atualidade, além de ter sido presidente da “Academia Brasileira de Artes”, onde dinamizou a entidade que completa 80 anos em 2022, atuou como Membro do Conselho Deliberativo do Museu de Arte Moderna (MAM) e Membro do Conselho Executivo da Unesco e Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, além de ter sido integrante do Conselho Empresarial de Cultura da Associação Comercial do Rio de Janeiro. A “Academia Brasileira de Arte” foi fundada em 1942, por inspiração de Ataulfo de Paiva, para culto da arte em sete de suas manifestações: pintura, escultura, arquitetura, literatura, teatro, música e crítica/história das artes. Teve como fundadores figuras do porte de, entre outros, Eliseu Visconti, Heitor Villa-Lobos, Alceu Amoroso Lima, Roquette Pinto, Leopoldo Gottuzzo (que também se destacaria como imortal da co-irmã “Academia Brasileira de Belas Artes”) e Gustavo Capanema. Aliás, e justamente em sucessão ao próprio ministro Gustavo Capanema, na cadeira 20, Heloísa integrava a Arcádia desde 1986, tendo sido recebida pelo escritor Marcos Almir Madeira, que também era presidente do PEN Clube do Brasil.

A presença de Heloisa (acima em outra foto de Marcelo Borgongino em confraternização da “Academia Brasileira de Arte”), na cena artística do país, foi marcante: A convite do governo russo estagiou no Museu Ermitage assim como no Museu de Arte Moderna de Paris, também a convite do governo francês, de quem, aliás, recebeu a ‘L’Ordre des Arts et des Lettres’, no grau de Chevalier. Por todo seu grande trabalho em prol das artes plásticas, sobretudo na capital fluminense, Heloisa recebeu o Título de Cidadã do Estado do Rio de Janeiro, em 2002, na ALERJ, além de outras justas homenagens.

Como escritora, além de ter publicado livros como ‘O Mundo de Taizi Harada - as Quatro Estações 20 Dias pelo Brasil’ e ‘Romero Britto: Flying fish & Mickey Mouse’ mais o ‘Acervo Museu Nacional de Belas Artes’, resgatava as memórias de sua família, muito conhecida, em Minas Gerais. Filha do advogado, professor, jurista, jornalista e político Pedro Aleixo (1901 – 1975), vice-presidente da República impedido de assumir quando Costa e Silva teve uma trombose, em 1969. Heloisa contava que o político mineiro – natural de Bandeirantes, distrito de Mariana - e fundador da extinta UDN virou persona non grata dos militares porque se recusou a assinar o AI-5, em dezembro de 1968. Cassado em outubro de 1969, o ex-vice foi perseguido pelo regime até a sua morte, nos anos 70. Entretanto, como vice-presidente da república, Aleixo foi o último nesta condição a exercer a presidência do Senado Federal. Assumiu a presidência da república no mês de abril de 1967, em razão de uma viagem de Costa e Silva ao Uruguai.

Viúva de Carlos Lustosa de Andrade, engenheiro civil da turma de 1948 da Escola de Engenharia de Minas Gerais, responsável por diversos projetos de construção civil representativos dos anos 60 e 70, na Zona Sul do Rio de Janeiro, inclusive do prédio onde Heloísa vivia no apartamento de cobertura, ela mantinha intenso convívio no mundo cultural carioca, prestigiando sempre amigos e empreendimentos acadêmicos e de preservações artísticas. Não fazia distinções entre acadêmicos, tampouco intrigas nos lugares onde atuou. Era séria, clássica e incentivava o jovem, valorizando o resgate histórico das entidades e afins. Minas Gerais, além dos rituais hospitaleiros, contribuiu com a presença festejada de Heloísa Aleixo Lustosa no mundo cultural. E ela será reverenciada e será lembrada, na imortalidade, sempre!

* Thiago de Menezes é presidente da "Federação das Academias de Letras do Brasil - FALB", membro correspondente da Academia Carioca de Letras e diretor da FALASP - Federação das Academias de Letras e Artes do Estado de São Paulo. 


 

FOTO SAUDADE - Assim ela gostaria de ser lembrada: Como presidente da “Academia Brasileira de Arte”, a ABA, Heloísa Aleixo Lustosa, de verde, aparece cercada pelos membros acadêmicos, e, na extrema direita, o Secretário Geral da Academia, Victorino Chermont de Miranda, atual presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Na foto, vemos ainda, entre outros, o escritor e dramaturgo Sergio Fonta (atual presidente da Academia Carioca de Letras) e o escritor, ensaísta e historiador de temas culturais Sylvio Lago, além da arqueóloga Maria Beltão, do antiquário Paulo Roberto Barragat, colecionador de arte antiga, do maestro Marlos Nobre, do ensaista Patrick Meyer, de Hildegard Angel (presidente do Instituto Zuzu Angel), do compositor e homem de carnaval Haroldo Costa, do designer gráfico Victor Burton, considerado o maior capista do mercado editorial brasileiro, além do acadêmico Mário Mendonça, considerado o maior artista brasileiro de arte sacra contemporânea, com quadros no Museu do Vaticano e em várias coleções e igrejas do mundo. (Registro de Marcelo Borgongino).