sexta-feira, 29 de abril de 2022

ACADIL perde Roberto Machado Carvalho

 

Acadêmico Professor Roberto Machado Carvalho 

(1932 - 2022)



O adeus ao querido mestre que se dedicou às causas santas e históricas, em uma vida rica de atuações em escolas e Academias de Letras. Estudioso da história de Itu e do interior paulista dedicou-se à produção jornalística de perfis biográficos

Por Thiago de Menezes*

 

Através da Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia, a ASBRAP, a Federação das Academias de Letras do Brasil (FALB) e sua congênere paulista, a FALASP, recebeu a triste notícia do falecimento, na capital paulista, do Professor Roberto Machado Carvalho, que foi um dos fundadores e presidente da ASBRAP (2003 a 2005), além de presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (1999 a 2001).

Seu legado para a história de Itu é louvável. Escreveu a biografia da Venerável Madre Maria Teodora Voiron (do colégio do Patrocínio, hoje candidata a Santa), de João Tibiriçá Piratininga, e do Santo de Itu - Padre Bento Dias Pacheco, além do escritor Francisco Nardy Filho. Publicou também livros sobre a Convenção Republicana de Itu e sobre a Escola Estadual “Regente Feijó”. Foi Secretário de Cultura do Município de Itu (2001-2004), onde também foi atuante no Rotary Clube ituano e exerceu a função de conselheiro do Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de Itú. Para comemorar o 4º Centenário de Itu, reuniu os principais artigos em jornais na obra “Quatro séculos de Itu”, em dois volumes, num total de 628 páginas. Dedicou-se à produção jornalística de perfis biográficos, sendo colaborador semanal do jornal ituano “A Federação”.

O Professor Roberto Machado Carvalho foi membro fundador da Academia Ituana de Letras (ACADIL), onde ocupava a Cadeira nº 24, cujo patrono é o Dr. Antônio de Almeida Prado e posteriormente seu representante na Federação das Academias de Letras do Brasil (FALB). A ACADIL decretou luto oficial por 3 dias. Foi membro da Academia Paulista de História; da Academia Cristã de Letras; da Academia Cultural e Artística de Tietê, pois, além de ter sido presidente do INEVAT - Instituto de Estudos do Vale Médio do Rio Tietê, era “Cidadão de Tietê” e da Academia Itapirense de Letras e Artes (de Itapira, SP), cidade onde tinha muitos amigos e empreendeu famosa noite de autógrafos, com palestra, sobre a Madre Maria Teodora Voiron e suas vicissitudes. Pertenceu a diversas instituições culturais, dentre elas a Associação Paulista de Imprensa e a União Brasileira de Escritores (UBE), de São Paulo.

Nascido em 18 de fevereiro de 1932, em Itu, onde frequentou o curso primário no antigo Grupo Escolar “Cesário Motta”, onde também foi professor, e estudou no Instituto de Educação “Regente Feijó. Licenciado em História e Geografia pela USP; pós-graduado em História do Brasil, tendo como orientador o Professor Sérgio Buarque de Holanda; e em História Social pela USP, com o orientador professor Pedro Brasil Bandechi. Foi professor do ensino médio no Estado de São Paulo, inclusive nos antigos Institutos de Educação de Tietê e “Regente Feijó”, em Itu, aposentando-se em 1986, após 30 anos de serviço. Também lecionou nas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras das Cidades de Itu (Nossa Senhora do Patrocínio), Marília (UNESP) e São Paulo (Moema e Pinheiros).

A missa de sétimo dia pela alma do professor e historiador de Itu, Roberto Machado Carvalho, será realizada no último sábado, dia 23 de abril, às 16h, na Igreja do Patrocínio em Itu. Roberto faleceu no domingo, 17 de abril, em São Paulo, aos 90 anos, por infecção pulmonar. Ele foi enterrado no túmulo da família no Cemitério da Saudade de Itú. Deixou viúva Octacília Naghirniac, de família oriunda da Romênia, com quem teve duas filhas: Silvia Narghirniac Carvalho e Sonia Narghirniac Carvalho. Deixa os netos Tullus Ullus Bergmann Filho, a bióloga Dra. Jéssica Carvalho Bergmann, o advogado Ivan Carvalho Ellero e Caio Carvalho Ellero; além, entre outros, do irmão Raul Machado Carvalho, do site Grande Itu.

 

*Membro Vitalício da Federação das Academias de Letras do Brasil, o escritor e jornalista (MTB 0038494/RJ) Thiago de Menezes é sócio correspondente, decano, da Academia Ituana de Letras (ACADIL), além de presidente da FALASP. Contatos: thiagorfmenezes@yahoo.com.br

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Lembranças da escritora Lygia Fagundes Telles

 

 

Lembrança de Lygia Fagundes Telles (1918 – 2022)

 
Lygia,  em 1954, São Paulo (Acervo IMS)

O escritor Thiago de Menezes, da Federação das Academias de Letras do Brasil, homenageia a escritora nas redes sociais com citações de suas lembranças pessoais da autora de 'As Meninas', 'Ciranda de Pedra' e 'Antes do Baile Verde', ainda afirmando a verdadeira idade da imortal da ABL e APL:


“Lygia teve uma vida regada a muita inspiração. E dizia, “existe uma palavra que saiu de moda e, no entanto, é insubstituível na terminologia da criação: a inspiração”. E acredito que essa mesma inspiração, fizeram dela, uma das mais importantes escritoras brasileiras. Assim como acredito que a sua inspiração acabou inspirando gerações de escritores, como marcou variadas gerações de leitores por décadas. Posso até dizer que fui um deles, pois o lado contista de Lygia é contagiante, a ponto de impulsionar a mente para deixar fluir a imaginação.

Pois bem, a verdade é que conheço, ou conheci Lygia, praticamente da vida toda. Desde a mais tenra infância, não só pelos livros que minha mãe, leitora voraz e bibliotecária, devorava, mas pela presença da mesma na cidade da minha infância, Araras (SP), onde ela passou boa parte de sua vida através dos laços que o casamento com Goffredo da Silva Telles Júnior, o grande jurista e professor de direito, impulsionariam entre a gente ararense com a qual ela conviveria anos seguidos.

Quando dona Carolina Penteado da Silva Telles fez 100 anos, eu, ainda menino e já militando no jornalismo, colaborando com os jornais Tribuna do Povo, de Araras, e Tribuna de Itapira, escrevi, nesse último, uma reportagem de página completa sobre o fato. Afinal, era a matriarca de uma das mais importantes famílias remanescentes dos tempos do baronato do café, cuja descendência teve origem em Fernão Dias Pais Leme. Dona Carolina era filha da famosa dona Olivia Guedes Penteado - verdadeira mecenas da arte brasileira e uma das impulsionadoras da Semana de Arte Moderna de 1922 – e proprietária da tradicional Fazenda Santo Antônio, em Araras. Propriedade rural essa, tão importante quanto foi a fazenda Empyreo, de Yolanda de Ataliba Nogueira Penteado, da mesma linhagem do pai de Carolina, Ignácio Penteado. Fora que Yolanda havia sido casada, em primeiras núpcias e antes de dourar o seu brasão com a epígrafe dos Matarazzo, com um Silva Telles. E foi através de dona Carolina, que Lygia se misturou à gente ararense, que havia se acostumado com a nata da intelectualidade artística que frequentava todas aquelas herdades.

A romancista e contista que recebeu os prêmios Jabuti, APCA e Camões, distinção maior em língua portuguesa pelo conjunto da obra, era, ainda, uma mulher de sociedade. Uma mulher do mundo. Do grande mundo e da velha São Paulo ‘quatrocentona’, como diria Tavares de Miranda, o colunista que foi imortal da 'Academia Paulista de Letras', a mesma entidade que engalanou suas portas para receber Lygia, que também seria recebida – glória maior – na 'Academia Brasileira de Letras', sendo a terceira mulher a ingressar naquele sodalício e ainda na 'Academia de Letras de Campos do Jordão' e na 'Academia de Letras da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco'.

Lygia Fagundes Telles, autografando um livro em 1958 (Acervo IMS)

Através do casamento com Goffredo, que ainda criança conviveu com Mário de Andrade, Lygia, teria contato com grandes nomes da política, das artes e da sociedade paulistana. Mas ela já era escritora e como o marido, também formada pelas Arcadas (Turma de 1945, ele da de 1933). Pois bem, Goffredo fora casado em primeiras núpcias, no ano de 1939, com Elza Bueno Xavier da Silva, a Zita, uma sobrinha de meu tio Affonso Bueno (descendente direto de Anhanguera II, patriarca de grande parte da gente bandeirante), que era casado com minha tia Alice Galembeck. Com Zita ele teve seu primeiro filho, ou melhor, seu primeiro Goffredo, pois o segundo seria com Lygia, com quem se casou um pouco mais tarde. Triste destino, tanto Zita como Goffredinho faleceriam cedo, deixando o pai e marido inconsolável, o que só mudaria quando conheceu Lygia de Azevedo Fagundes.

Lygia casou-se com seu primeiro marido, Goffredo, em 17 de abril de 1947, 02 dias antes de completar 29 anos. No registro de casamento sua data de nascimento é clara: 19 de abril de 1918, mesmo a imprensa toda e algumas entidades terem dado 1923 como o ano de seu nascimento. Lygia foi registrada no cartório de registro civil de Santa Cecília (São Paulo, SP) em 23 de abril de 1918 com 04 dias de idade. Poucos dias depois foi batizada na paróquia da Consolação em 03 de maio de 1918. Portanto, não faleceu no domingo 03 de abril com quase 99 anos e sim com quase 104 anos, extremamente longeva. Mas, a verdadeira idade de Lygia acabou vazando quando teve de juntar documentação a respeito da sua sucessão. Virou um segredo de polichinelo na Academia Paulista de Letras. Fora dali, poucos sabiam, creio que somente eu e o escritor e jornalista Gabriel Kwak, meu confrade na 'Academia de Letras de Campos do Jordão'. Sabia que ela era mais velha que minha tia avó, Myrthes, essa de 1920, pois tinham uma amiga em comum cuja idade oscilava entre 1919 a 1922: Cinzica Monti Rolli, também escritora, porém com breve atuação.


Certidão de casamento de Lygia de Azevedo Fagundes (da Silva Telles), nascida em 1918

E falando na “Montanha Magnífica”, quando ingressei nessa prestigiada entidade, ‘apadrinhado’ por gente como Cecília Murayama e Oswaldo Sangiorgi, tive o prazer de conviver um pouco mais com Lygia, que reinava na cidade sempre ciceroneada pelo Arakaki Masakasu, o célebre secretário geral da 'Academia de Letras de Campos do Jordão', a qual me aproximou também de Gabriel Kwak. E o próprio Gabriel, viu uma vez Lygia (que votou nele, inclusive, para ingressar naquela entidade), comentando numa roda que estava rasgando muita coisa do seu arquivo, inclusive cartas, para que não atribuíssem a ela que tivesse namorado este ou aquele. Nélida Piñon o disse que o pouco arquivo que Lygia juntou - e doou ao Instituto Moreira Salles - foi por influência dela, Nélida, que "guarda tudo", inclusive, notas de aula e várias versões dos seus romances. E no quesito namoro, Lygia namorou Moacyr Werneck de Castro.

Os primeiros livros de Lygia ela os renegou e se tornaram raridades, itens de colecionador, como ‘Porão e sobrado’, ‘Praia viva’ e ‘O cacto vermelho’. Agora, mais valiosos ainda. Descanse em Luz, Lygia Fagundes Telles, escritora e mulher – ofício e condição duplamente difíceis de contornar - que ouvia duzentas e noventa e nove vezes o mesmo disco, lembrava poesias, sonhava, inventava, abria todos os portões quando via a alegria instalada em si!”.

Thiago de Menezes

da Federação das Academias de Letras do Brasil e da Academia de Letras de Campos do Jordão.



Foto saudade: Na ABL, na primeira filha, da direita para a esquerda: Lêdo Ivo, Lygia Fagundes Telles e Jorge Amado; na segunda fileira, também da direita para a esquerda: Rachel de Queiroz, Eduardo Portella, Marcos Almir Madeira (então presidente do PEN Clube do Brasil) e Sábato Magaldi e na terceira e última fileira, também da direita para a esquerda: Alberto Venâncio Filho, João Ubaldo Ribeiro, Cândido Mendes e Sérgio Paulo Rouanet, mais Tarcísio Padilha (em pé). 

(Reprodução)