À Marita Vinelli, impulsionadora da FALASP,
nossa homenagem!
Thiago de Menezes*
Conforme escreveu o jornalista e reitor
da Universidade Santa Úrsula, Paulo Alonso, a última semana de setembro foi
marcada por uma tristeza absolutamente profunda. Três personagens culturais dos
mais queridos se foram deixando uma lacuna imensa em todos nós que, com o
passar dos anos e décadas, aprendemos a admirá-los, pela construção dos seus
trabalhos.
E em sua coluna no jornal Monitor
Mercantil, Paulo Alonso, meu estimado confrade dos bons tempos da “Academia de
Letras do Estado do Rio de Janeiro – ACLERJ”, citou que Luís Gustavo (o Tatá),
ator mágico e dono de uma versatilidade notável, partiu, e com ele um enorme
vazio foi aberto no mundo das artes; Marita
Vinelli, poeta das mais sensíveis e delicadas, titular de várias Academias
de Letras, também nos deixou; assim como o empresário José Eduardo Guinle, um
homem visionário e que sempre esteve à frente do seu tempo e que conhecia tudo
de turismo, hotelaria e marketing, morreu.
Mas a morte da ensaísta, conferencista,
escritora, poetisa premiada e acadêmica Marita, ou melhor, de Marita Vinelli Baptista de Sá Fortes
Pinheiro, profundamente me toca, nos toca, pelos longos anos de amizade
aliados ao carinho e respeito mútuo. Carinho grande que fez recebe-la, com a
dignidade que a mesma merecia, em minha cidade natal, quando esteve na região
de Itapira, pela primeira vez. Marita foi uma das verdadeiras incentivadoras
para que se criasse a FALASP, nossa “Federação das Academias de Letras e Artes do
Estado de São Paulo, depois que lancei a ideia de tentar unir as Arcádias
paulistas sob o comando da Federação das Academias de Letras do Brasil, a FALB,
fundada em 1º de julho de 1936 por Afonso Costa, um dos fundadores da Academia
de Letras da Bahia em 1917, durante o primeiro Congresso de Academias de Letras
no Brasil.
Na ocasião, Francisco Silva Nobre,
então na presidência da FALB, anunciava transformar o velho ‘Senado da Cultura’
– como muito bem o proclamou o mestre Paulino Jacques - em um órgão maior no
sentido de atuar como entidade catalizadora das Letras e Artes. Marita era a
atuante e respeitada Diretora Cultural da FALB e logo ajudou a organizar uma
excursão para levar os acadêmicos até a Estância de Águas de Lindóia, onde
seria fundada a FALASP. Foram dias maravilhosos e de muito trabalho, onde o
espírito da amizade verdadeira e fraterna prosperou entre os participantes
desses memoráveis encontros. Daí víamos o primordial uso da palavra federativa
a fim de pregar a união dentro das manifestações literárias paulistas e
paulistanas.
Inicialmente, a FALASP, com o aval da
FALB, teve uma trajetória marcada pela restauração de antigas agremiações e
ordens de mérito, oficializações de honrarias, concursos literários e dezenas
de publicações. A criação da FALASP, paralela à congênere FALARJ (que não havia
sido oficializada em cartório e tampouco na Receita Federal) impulsionaria o
nascimento de outras Federações brasil afora, o que motivou constantes viagens
dos acadêmicos paulistas e cariocas a esses estados. Marita foi entusiasta
dessas ideias todas, tendo ido também a Minas Gerais.
Falar de Marita Vinelli Baptista e sua
carreira poética é um ato generoso do coração. A conheci há muitos e muitos
anos atrás, quando cheguei à FALB no começo da década de 1990, ao tempo da
plêiade de Tobias Pinheiro, quando a entidade, da qual ela integrava a
Diretoria, já tinha passado pela reforma estatutária, proposta anos antes por
um ex-presidente, o Dr. Adelmy Cabral Neiva, professor de direito internacional
público, de direito privado e procurador. Ao lado de Messody Ramiro Benoliel e
de Ricardina Marques Silva (Yone), a confreira Marita Vinelli Baptista de Sá
Fortes Pinheiro, eram, comigo as únicas ainda vivas dos primeiros dias aqui
rememorados e integrantes da última diretoria que vigorou na FALB, já novamente
conduzida por Tobias Pinheiro.
Membro titular da “Academia
Luso-Brasileira de Letras” (onde ocupava a cadeira 29, cujo patrono é Olavo
Bilac e que tinha como fundador Henrique Orciuoli e como ocupante anterior, o
legendário A. Machado Pauperio), e da “Academia Nacional de Letras e Artes”,
Marita era membro vitalício da Federação das Academias de Letras do Brasil, reconhecida
como de utilidade pública pelo Decreto Federal nº 1670, de 24/05/1937 e pela Lei
Estadual nº 24, de 15/12/1960 -, Marita Vinelli subiu degraus dentro da
literatura tendo ingressado no PEN Clube do Brasil e na “Academia Carioca de
Letras” (instituição também conhecida como ‘Casa de José de Anchieta’), onde
passou a ocupar a Cadeira 28, cujo Patrono é Tito Lívio de Castro e que teve
como ocupantes anteriores, os acadêmicos Saladino de Gusmão, Pádua de Almeida e
Fernando Sales. Marita pertenceu, ainda, à “Academia Brasileira de Literatura”
também designada pela sigla ABDL, e prestou efetiva e dinâmica participações em
outras entidades, como a “Sociedade Eça de Queiroz” (que surgiu como herdeira
do antigo ‘Club do Eça’, que funcionou no Rio de Janeiro, nos anos 40, 50 e 60),
onde também fora Diretora Cultural, e ainda à “Academia Pan-americana de Letras
e Artes” e ao “Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes”.
Marita era filha do médico e professor
Vinelli Baptista e viúva do também médico e docente Luiz Carlos de Sá Fortes
Pinheiro e que ambos integraram a “Academia Nacional de Medicina”. E o
casamento dela foi algo duradouro e marcante, tendo sido muito elogiado na
década de 1950, quando o Rio de Janeiro ainda era a Capital da República. O
jornal A NOITE, em sua edição de 05 de janeiro de 1953, trazia reportagem da
cronista social Dyla Josetti, onde focalizava Marita em seu casamento que foi
recheado de pura poesia. Naqueles anos, a poetisa, que havia lançado em 1948 o
livro "No Vale Verde do Meu Sonho",
pela Tipografia Batista de Souza, frequentava eventos literários no famoso
Palacete ‘Trisantópolis’, - à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas em plena
avenida Epitácio Pessoa -, que queria dizer a Vila das Três Flores, idealizado
pelo poeta Faustino Nascimento, sob inspiração da Grécia e em homenagem dedicada
à sua esposa Maria Consuelo e às suas filhas Marilurde e Elomar; assim como as
reuniões culturais na residência do professor e senhora Antônio Augusto Xavier,
onde se reunia o corpo diplomático e o alto mundo carioca. E no mesmo ano de
1953, a Editora Irmãos PONGETTI, lançava no Rio de Janeiro, o compêndio poético
‘Tu chegaste, primavera’, de autoria de Marita Vinelli Baptista, que também publicaria,
nas décadas seguintes muitos discursos de posse e outras alocuções acadêmicas,
além do compêndio poético “Vou cantar até morrer”.
E conforme ainda escreveu a dramaturga,
escritora, professora e advogada Míriam Halfim (minha confreira na “Academia
Carioca de Letras”, a ACL) em 2019, sobre Marita, que embora homenageada na ACL
já estava afastada do convívio social e cultural com seus pares acadêmicos: “Assim
é que ela pode até esquecer do muito que viveu, sofreu e ensinou nesse quase
centenário de vida, mas em nós fica a lição para que não a esqueçamos. Fazer
cultura é uma benção”. E a vida poética de Marita Vinelli Baptista de Sá Fortes
Pinheiro, notadamente uma das mais importantes intelectuais brasileiras, foi
realmente uma benção ultrapassada mais de 98 anos de vivências. Vai deixar saudades
e um lindo legado cultural. Viva Marita Vinelli, personificação da integridade
em nossa vida literária. Saudade e gratidão!
*Thiago (Galenbeck Gagliardi) de Menezes é presidente da
“Federação das Academias de Letras e Artes do Estado de São Paulo – FALASP”,
membro vitalício da “Federação das Academias de Letras do Brasil – FALB” e
membro correspondente da “Academia Carioca de Letras”.