domingo, 3 de outubro de 2021

Acadêmica Marita Vinelli Baptista de Sá Fortes Pinheiro

 

 

À Marita Vinelli, impulsionadora da FALASP, nossa homenagem!

 

Thiago de Menezes*

 

Conforme escreveu o jornalista e reitor da Universidade Santa Úrsula, Paulo Alonso, a última semana de setembro foi marcada por uma tristeza absolutamente profunda. Três personagens culturais dos mais queridos se foram deixando uma lacuna imensa em todos nós que, com o passar dos anos e décadas, aprendemos a admirá-los, pela construção dos seus trabalhos.

E em sua coluna no jornal Monitor Mercantil, Paulo Alonso, meu estimado confrade dos bons tempos da “Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro – ACLERJ”, citou que Luís Gustavo (o Tatá), ator mágico e dono de uma versatilidade notável, partiu, e com ele um enorme vazio foi aberto no mundo das artes; Marita Vinelli, poeta das mais sensíveis e delicadas, titular de várias Academias de Letras, também nos deixou; assim como o empresário José Eduardo Guinle, um homem visionário e que sempre esteve à frente do seu tempo e que conhecia tudo de turismo, hotelaria e marketing, morreu.

Mas a morte da ensaísta, conferencista, escritora, poetisa premiada e acadêmica Marita, ou melhor, de Marita Vinelli Baptista de Sá Fortes Pinheiro, profundamente me toca, nos toca, pelos longos anos de amizade aliados ao carinho e respeito mútuo. Carinho grande que fez recebe-la, com a dignidade que a mesma merecia, em minha cidade natal, quando esteve na região de Itapira, pela primeira vez. Marita foi uma das verdadeiras incentivadoras para que se criasse a FALASP, nossa “Federação das Academias de Letras e Artes do Estado de São Paulo, depois que lancei a ideia de tentar unir as Arcádias paulistas sob o comando da Federação das Academias de Letras do Brasil, a FALB, fundada em 1º de julho de 1936 por Afonso Costa, um dos fundadores da Academia de Letras da Bahia em 1917, durante o primeiro Congresso de Academias de Letras no Brasil.

Marita Vinelli, conde Thiago de Menezes, Denise Teixeira e F. Silva Nobre durante as festividades iniciais da abertura da FALASP

Na ocasião, Francisco Silva Nobre, então na presidência da FALB, anunciava transformar o velho ‘Senado da Cultura’ – como muito bem o proclamou o mestre Paulino Jacques - em um órgão maior no sentido de atuar como entidade catalizadora das Letras e Artes. Marita era a atuante e respeitada Diretora Cultural da FALB e logo ajudou a organizar uma excursão para levar os acadêmicos até a Estância de Águas de Lindóia, onde seria fundada a FALASP. Foram dias maravilhosos e de muito trabalho, onde o espírito da amizade verdadeira e fraterna prosperou entre os participantes desses memoráveis encontros. Daí víamos o primordial uso da palavra federativa a fim de pregar a união dentro das manifestações literárias paulistas e paulistanas.

Inicialmente, a FALASP, com o aval da FALB, teve uma trajetória marcada pela restauração de antigas agremiações e ordens de mérito, oficializações de honrarias, concursos literários e dezenas de publicações. A criação da FALASP, paralela à congênere FALARJ (que não havia sido oficializada em cartório e tampouco na Receita Federal) impulsionaria o nascimento de outras Federações brasil afora, o que motivou constantes viagens dos acadêmicos paulistas e cariocas a esses estados. Marita foi entusiasta dessas ideias todas, tendo ido também a Minas Gerais.

Falar de Marita Vinelli Baptista e sua carreira poética é um ato generoso do coração. A conheci há muitos e muitos anos atrás, quando cheguei à FALB no começo da década de 1990, ao tempo da plêiade de Tobias Pinheiro, quando a entidade, da qual ela integrava a Diretoria, já tinha passado pela reforma estatutária, proposta anos antes por um ex-presidente, o Dr. Adelmy Cabral Neiva, professor de direito internacional público, de direito privado e procurador. Ao lado de Messody Ramiro Benoliel e de Ricardina Marques Silva (Yone), a confreira Marita Vinelli Baptista de Sá Fortes Pinheiro, eram, comigo as únicas ainda vivas dos primeiros dias aqui rememorados e integrantes da última diretoria que vigorou na FALB, já novamente conduzida por Tobias Pinheiro.

A poetisa Marita Vinelli, Rio de Janeiro, década de 1940

Membro titular da “Academia Luso-Brasileira de Letras” (onde ocupava a cadeira 29, cujo patrono é Olavo Bilac e que tinha como fundador Henrique Orciuoli e como ocupante anterior, o legendário A. Machado Pauperio), e da “Academia Nacional de Letras e Artes”, Marita era membro vitalício da Federação das Academias de Letras do Brasil, reconhecida como de utilidade pública pelo Decreto Federal nº 1670, de 24/05/1937 e pela Lei Estadual nº 24, de 15/12/1960 -, Marita Vinelli subiu degraus dentro da literatura tendo ingressado no PEN Clube do Brasil e na “Academia Carioca de Letras” (instituição também conhecida como ‘Casa de José de Anchieta’), onde passou a ocupar a Cadeira 28, cujo Patrono é Tito Lívio de Castro e que teve como ocupantes anteriores, os acadêmicos Saladino de Gusmão, Pádua de Almeida e Fernando Sales. Marita pertenceu, ainda, à “Academia Brasileira de Literatura” também designada pela sigla ABDL, e prestou efetiva e dinâmica participações em outras entidades, como a “Sociedade Eça de Queiroz” (que surgiu como herdeira do antigo ‘Club do Eça’, que funcionou no Rio de Janeiro, nos anos 40, 50 e 60), onde também fora Diretora Cultural, e ainda à “Academia Pan-americana de Letras e Artes” e ao “Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes”.

Destaque nas colunas sociais para o casamento da poetisa Marita Vinelli Baptista

Marita era filha do médico e professor Vinelli Baptista e viúva do também médico e docente Luiz Carlos de Sá Fortes Pinheiro e que ambos integraram a “Academia Nacional de Medicina”. E o casamento dela foi algo duradouro e marcante, tendo sido muito elogiado na década de 1950, quando o Rio de Janeiro ainda era a Capital da República. O jornal A NOITE, em sua edição de 05 de janeiro de 1953, trazia reportagem da cronista social Dyla Josetti, onde focalizava Marita em seu casamento que foi recheado de pura poesia. Naqueles anos, a poetisa, que havia lançado em 1948 o livro "No Vale Verde do Meu Sonho", pela Tipografia Batista de Souza, frequentava eventos literários no famoso Palacete ‘Trisantópolis’, - à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas em plena avenida Epitácio Pessoa -, que queria dizer a Vila das Três Flores, idealizado pelo poeta Faustino Nascimento, sob inspiração da Grécia e em homenagem dedicada à sua esposa Maria Consuelo e às suas filhas Marilurde e Elomar; assim como as reuniões culturais na residência do professor e senhora Antônio Augusto Xavier, onde se reunia o corpo diplomático e o alto mundo carioca. E no mesmo ano de 1953, a Editora Irmãos PONGETTI, lançava no Rio de Janeiro, o compêndio poético ‘Tu chegaste, primavera’, de autoria de Marita Vinelli Baptista, que também publicaria, nas décadas seguintes muitos discursos de posse e outras alocuções acadêmicas, além do compêndio poético “Vou cantar até morrer”.

Marita Vinelli Baptista, sempre noticiada nos jornais cariocas da década de 1950.

E conforme ainda escreveu a dramaturga, escritora, professora e advogada Míriam Halfim (minha confreira na “Academia Carioca de Letras”, a ACL) em 2019, sobre Marita, que embora homenageada na ACL já estava afastada do convívio social e cultural com seus pares acadêmicos: “Assim é que ela pode até esquecer do muito que viveu, sofreu e ensinou nesse quase centenário de vida, mas em nós fica a lição para que não a esqueçamos. Fazer cultura é uma benção”. E a vida poética de Marita Vinelli Baptista de Sá Fortes Pinheiro, notadamente uma das mais importantes intelectuais brasileiras, foi realmente uma benção ultrapassada mais de 98 anos de vivências. Vai deixar saudades e um lindo legado cultural. Viva Marita Vinelli, personificação da integridade em nossa vida literária. Saudade e gratidão!

 

*Thiago (Galenbeck Gagliardi) de Menezes é presidente da “Federação das Academias de Letras e Artes do Estado de São Paulo – FALASP”, membro vitalício da “Federação das Academias de Letras do Brasil – FALB” e membro correspondente da “Academia Carioca de Letras”.